quarta-feira, 2 de agosto de 2017

História trágico-marítima (CCXXVIII)


A algumas milhas de Leixões o cargueiro “Mira-Terra”, abalroou
com o navio tanque “Cláudia”, produzindo-lhe um enorme rombo

Com o fim de descarregar gasolina e outros combustíveis, encontrava-se em Leixões, atracado ao cais do molhe Sul, o navio tanque “Cláudia”, pertencente à Soponata, e ao serviço da Sacor. Cerca das 6 horas de ontem, e após a descarga dos combustíveis, o “Cláudia” fundeou ao largo no anteporto, aguardando a todo o momento que o espesso nevoeiro, que tem dominado em toda a costa se dissipasse.

Foto do navio-tanque "Cláudia", em Leixões
Imagem da Fotomar, Matosinhos

Características do navio-tanque “Cláudia”
Armador: Sociedade Portuguesa de Navios Tanques, Lisboa
Operador: Sacor Marítima, Lda., Lisboa
Nº Oficial: H-474 - Iic: C.S.P.O. - Porto de registo: Lisboa
Construtor: Odenbach Shipbuilding Corp., Nova York, 1944
Arqueação: Tab 638,13 tons - Tal 557,30 tons
Dimensões: Pp 54,68 mts - Boca 9,17 mts - Pontal 3,64 mts
Propulsão: Clark Engine Co., 1944 - 2:Di - 8:Ci - 7oo Bhp
Equipagem: 7 tripulantes

Eram 9 horas e 5 minutos precisos, quando a atmosfera se desanuviou um pouco. O comandante sr. Álvaro Garrido Pedro, ordenou imediatamente que fosse levantado ferro, fazendo-se em seguida o navio ao mar. Navegava o petroleiro com todo o cuidado, apitando amiudadas vezes, como manda o regulamento marítimo, quando, a seis milhas e meia da costa, no mar entre Miramar e Espinho, lhe surgiu pela amurada de bombordo, já muito perto, o cargueiro da Sociedade Geral “Mira Terra”, comandado pelo sr. António Camarate Carrilho, que navegava para Leixões, só se ouvindo nessa altura o sinal característico de aproximação.
Eram precisamente 10 horas e 10 minutos. O comandante do navio-tanque, que ia atento ao mar, na ponte de comando, com o imediato sr, Vasco Correia, o 1º maquinista, sr. Mário Fernandes, e os marinheiros Bento José dos Santos Arcadinho, este, ao leme, e Manuel António Henriques, ao verificar que o cargueiro ia abalroar com o seu navio pelo convés, o que representava um perigo enorme, visto que nos tanques havia muitos gases, dando mostras de uma grande perícia, ordenou prontamente ao marinheiro do leme, que virasse tudo para estibordo, enquanto com as máquinas a toda a força o “Cláudia” tentava fugir.

Foto do navio de carga "Mira-Terra", em Leixões
Imagem da Fotomar, Matosinhos

Características do cargueiro “Mira-Terra”
Armador: Soc. Geral de Transp. Comércio e Indústria, Lisboa
Nº Oficial: H-444 - Iic: C.S.B.G. - Porto de registo: Lisboa
Construtor: Companhia União Fabril, SARL., Lisboa, 1956
Arqueação: Tab 562,31 tons - Tal 237,64 tons
Dimensões: Pp 52,03 mts - Boca 8,72 mts - Pontal 3,31 mts
Propulsão: Burmeister & Wain, 1956 - 1:Di - 600 Bhp - 10 m/h
Equipagem: 15 tripulantes

Como não podia deixar de ser, deu-se a colisão, felizmente sem grande perigo. O “Mira-Terra” embateu com a proa por bombordo do “Cláudia, produzindo-lhe um extenso rombo. A colisão que foi violenta, apenas apanhou no beliche o tripulante sr. José Ramos Carrelo, de 27 anos, da Cova da Piedade, mas a residir em Almada, que com a violência da pancada foi projectado, ferindo-se no frontal e coxa esquerda.
Logo que se deu o embate, os dois navios entraram em contacto com Leixões, a partir de onde foram tomadas providências, entrando ambos os navios neste porto, cerca das 12 horas, fundeando na bacia, para ser imediatamente transportado aos serviços de urgência do hospital de Matosinhos, o único marinheiro ferido, que depois de receber os socorros adequados, recolheu a bordo.
Os prejuízos são enormes, principalmente no petroleiro “Cláudia”, que ficou com a enfermaria, posto médico, alojamentos do pessoal menor e camarote do 1º maquinista parcialmente destruídos. No “Mira-Terra” os prejuízos são pequenos, visto que só a varanda da proa foi atingida, tendo havido, ainda, uma pequena amolgadela do lado de bombordo.
(In jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 22 de Setembro de 1957)

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