quinta-feira, 16 de junho de 2016

História trágico-marítima (CXCII)


O encalhe do vapor “Eider”, no rio Douro

Ontem, cerca das 3 horas e meia da tarde, na ocasião em que seguia rio abaixo, em direcção à barra, o vapor inglês “Eider”, da Mala Real Inglesa, ao chegar ao lugar de Lobeiras de Gaia, próximo aos armazéns da casa Andresen, encalhou nas pedras.
O encalhe deu-se quando o vapor fazia uma manobra, desviando-se ao sul, por causa de uma barcaça fundeada naquele ponto.
Feito o sinal de socorro, dirigiram-se para o local os rebocadores “Luzitania” e “Mars”, que deram vários puxões ao vapor, sem, contudo, conseguir safá-lo, por lhe faltar a maré.
O vapor era pilotado pelo sr. Porfírio da Silva Faustino.
Esperam que na maré da madrugada de hoje, com o auxílio dos aludidos rebocadores, o “Eider” possa safar-se.
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O “Eider” foi construído em 1900, é de aço, tem 1.236 toneladas brutas, 779 toneladas líquidas, 230 pés de comprido (70,10 mts), 32 pés de largo (9,75 mts) e 16 e meio (5,64 mts) de pontal, estando matriculado em Glasgow. Tinha vindo de Lisboa receber carga de vinho e outros géneros, destinando-se a Inglaterra. É seu capitão o sr. Derby.
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O encalhe do vapor chamou a atenção de muitos curiosos, que estiveram a presenciar as manobras feitas para salvamento do “Eider”.
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Além de umas 120 pipas de vinho, pertencentes a uma importante casa exportadora de Gaia, o “Eider” tem ainda um carregamento de sacos de minério, cortiça e diversos géneros.
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Ao fim da tarde o vapor tombou um pouco para a margem esquerda. Consta que o vapor ainda não tem nenhum rombo; mas é de presumir que apareça, atendendo que o peso da carga sobre que assenta no rochedo é de umas 400 toneladas.
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Esta madrugada os rebocadores seguiram para próximo do “Eider”, a fim de, aproveitando a maré, ver se conseguem safá-lo.
(In jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 26 de Outubro de 1919)

Foto do navio "Eider" - Imagem da Photoship.Uk

Características do vapor “Eider”
1900-1926
Armador: Royal Mail Steam Packet Co., Londres
Construtor: Campbeltown Shipbuilding Co., 10.1900
Arqueação: Tab 1.236,00 tons - Tal 779,00 tons
Dimensões: Pp 70,23 mts - Boca 9,93 mts - Pontal 4,98 mts
Propulsão: Hutson & Sons - 1:Te - 3:Ci - 120 Nhp - 10 m/h
dp “Eider”, Union Castle Ltd., Londres, 1926-1936
dp “Stanhill”, Stancope Steam Shipping, Londres, 1936-1936
dp “Docilitas”, Adriatico Tirreno S.A., Génova, 1936-1938
Atacado à bomba em 4 de Maio de 1944, durante um raid aéreo sobre a cidade de Génova, tendo ficado muito danificado. Por esse motivo foi mandado demolir pouco tempo depois.

O vapor encalhado
O vapor “Eider”, da Mala Real Inglesa, que se encontrava encalhado desde sábado, no local de Lobeiras de Gaia, quando se dispunha a sair a barra, em direcção a Inglaterra foi posto a flutuar, na madrugada de Domingo.
Pelas 2 horas e meia de madrugada de ante-ontem, aproveitando a meia maré, foram feitos todos os preparativos para o salvamento, sob a direcção do piloto sr. Porfírio da Silva Faustino, que pilotava o vapor na ocasião do encalhe.
Os trabalhos correram o melhor possível e, tirado o cabo e com o auxílio de um ferro, o vapor começou a flutuar.
Os rebocadores “Luzitania” e “Mars”, deitando então cabos ao “Eider”, endireitaram-no, levando-o rio abaixo até ao lugar do Cavaco, próximo a Gaia, onde fundeou.
Antes de terem procedido ao desencalhe e a fim de aliviar o vapor, foi esgotado um tanque, alijando assim um peso de umas 60 toneladas.
Ontem um mergulhador andou a verificar as avarias que o “Eider” recebera, parecendo que se resumem à amolgadela de umas chapas e a uma avaria no leme.
O capitão do navio sr. Derby, espera ordens de Inglaterra, respeitantes às reparações a fazer no vapor e sua saída.
(In jornal “Comércio do Porto”. terça, 28 de Outubro de 1919)

O vapor “Eider” saiu a barra
O vapor inglês “Eider”, da Mala Real Inglesa, que no sábado último encalhara no rio Douro, quando se dispunha a seguir para Inglaterra, com carregamento de vinho e géneros, após uma demorada vistoria, levantou ontem ferro, de tarde, seguindo ao seu destino, sem novidade.
Como foi dito, o “Eider” apenas ficou com umas chapas amolgadas e uma pequena avaria no leme.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta, 29 de Outubro de 1919)

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