terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

História trágico-marítima (CLXXXII)


Portugal e a guerra
Escuna portuguesa “Loanda” afundada

Um submarino, que se supõe ter sido o mesmo que ontem se mostrou, por momentos, próximo do Cabo da Roca, tendo desaparecido à perseguição das nossas patrulhas, afundou, ao final da tarde, a 50 milhas do referido Cabo, a pequena escuna portuguesa “Loanda”, cuja tripulação foi recolhida por um dos barcos patrulhas.
O submarino passou para o bote, em que a tripulação foi salva, quatro tripulantes de um vapor norueguês, afundado na costa espanhola, que estavam prisioneiros a bordo.
(In jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 15 de Julho de 1917)

Imagem da escuna "Loanda" na Figueira da Foz
Foto na Ilustração Portuguesa Nº 230 de 18 de Julho de 1910

Características da escuna “Loanda”
1907-1917
Nº Oficial: 274 - Iic: H.D.Q.V. - Porto de registo: F. da Foz
Armador: Sociedade de Pesca Africana, Figueira da Foz
Construtor: Labourer, Paimpol, 1894
ex escuna “Pierrette”, Proprietário desconhecido, 1894-1907
Arqueação: Tab 141,22 tons - Tal 134,16 tons
Dimensões: Pp 30,42 mts - Boca 7,04 mts - Pontal 3,51 mts
Propulsão: À vela
Equipagem: 7 tripulantes

O torpedeamento da escuna “Loanda”
O comandante da escuna “Loanda”, afundada por um submarino alemão e que saíra de Lisboa com carregamento completo de vinho, deu sobre esse acontecimento estes esclarecimentos:
A escuna saíra de Lisboa, de facto, no dia 10, navegando sem novidade até ao dia 13. Quando se encontrava, porém, a 45 milhas a noroeste do Cabo da Roca, às 11 e três quartos sentiu uma detonação. Procurando informar-se do que havia, nada viu de suspeito, só avistando a grande distância o submarino alemão depois de trepar a um dos mastros.
Mandou, por isso, arriar a baleeira, ordenando aos sete homens da tripulação que entrassem para ela. O pirata mergulhou, surgindo pouco depois a três metros da escuna. Era de grandes dimensões, talvez de mais de 1.000 toneladas e ficou tão próximo da baleeira que o redemoinho que fez a obrigou a encostar-se-lhe. O capitão obrigou o sr. Bingre a subir para o submarino com os papéis de bordo, interrogando-o através de um artilheiro, que parecia espanhol pela maneira como falava esta língua.
Quando soube que a escuna levava um carregamento de vinho, o capitão do submarino soltou uma gargalhada, por não ser talvez aquele o primeiro navio com essa carga que conseguia afundar. Depois comunicou ao sr. Manoel Bingre que ia confiar-lhe quatro tripulantes de um barco russo que afundara, sendo três noruegueses e um russo. O capitão desse navio continuou, porém, prisioneiro a bordo. Ficavam assim na baleeira 12 homens, sendo então esta rebocada pelo submarino, que foi colocar-se a uns 100 metros a bombordo da escuna, contra a qual disparou 5 tiros, com um canhão de 15 centímetros.
Como o sol lhe batesse de frente, os tiros não acertaram, pelo que o submarino foi colocar-se a estibordo, disparando mais 13 tiros. Ao décimo terceiro, a escuna adernou, entregando o comandante do pirata aos tripulantes da baleeira, além de três latas de conserva e de um pão de centeio muito escuro, a bússola do navio russo torpedeado, para se orientarem.
Ao submarino juntou-se depois um outro das mesmas dimensões, desaparecendo então ambos. Remando para terra, avistaram às 7 horas da tarde o Cabo da Roca, chegando a Cascais às 3 da manhã.
Recolhidos pelo barco dos pilotos, aguardaram durante algum tempo que passasse para o Tejo algum dos barcos patrulhas da divisão naval; mas como isso não sucedesse, entraram de novo na baleeira e vieram desembarcar no Terreiro do Paço, às 9 horas do dia 14.
O sr. Manoel Bingre contou ainda várias particularidades do caso, terminando por afirmar que está pronto para realizar outra viagem.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça, 17 de Julho de 1917)

A escuna “Loanda” foi mandada parar e posteriormente afundada pela artilharia do submarino alemão UC-54, no dia 13 de Julho de 1917, quando este se encontrava sob o comando do capitão Heinrich XXXVII Prinz Reuss zu Koestritz, a cerca de 45 milhas náuticas ao largo do Cabo da Roca, quando em viagem de Lisboa para França.
Quanto ao navio russo citado no texto, trata-se da escuna “Maija”, de 164 toneladas e registada no porto de Riga, afundada na véspera, ao largo da costa portuguesa, durante a viagem deste navio para Teignmouth, Inglaterra.

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