sábado, 7 de novembro de 2015

História trágico-marítima (CLXXIV)


O naufrágio da canhoneira "Tete"

Uma explosão a bordo, mortos e feridos
Uma comunicação telegráfica, recebida pelo governo, noticia que a canhoneira “Tete”, ao serviço da marinha colonial, que se encontrava no rio Zambeze, foi destruída por se haver dado a bordo uma explosão nas caldeiras, submergindo-se em curtos momentos.
Segundo o mesmo telegrama, morreram o comandante da canhoneira, 2º tenente José Senna Barcellos Nascimento, dois filhos do secretário da circunscrição de Maturara e um chegador.
Desapareceu um filho daquele oficial e ficaram feridos com alguma gravidade a esposa do comandante Senna Barcellos e mais duas senhoras. Também ficaram feridos, uns gravemente e outros ligeiramente, os restantes tripulantes do navio, na maioria indígenas.

A “Tete” era uma pequena canhoneira do serviço fluvial, movida a rodas, tendo sido construída há 12 anos, aproximadamente. Tanto a “Tete” (1903-1917) como outra canhoneira perfeitamente igual (“Sena”, 1904-1917) faziam o policiamento no Zambeze, tendo o governo inglês retirado dali as suas canhoneiras após a ida para aquele rio das duas embarcações portuguesas, às quais confiam toda a fiscalização daquela via internacional.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 23 de Fevereiro de 1917)

A explosão a bordo da “Tete”
No ministério das colónias foi hoje recebido um telegrama, ratificando o de ontem acerca da explosão a bordo da lancha-canhoneira “Tete”. Segundo o mesmo telegrama, também faleceu o secretário da circunscrição de Maturara.
A esposa do comandante do navio, 2º tenente Senna Barcellos, encontra-se em estado grave. A outra senhora ferida, a que no primeiro telegrama se faz alusão, é a esposa do director dos correios e telégrafos de Tete.
Um filho do comandante faleceu e o outro desapareceu, sendo estas as únicas crianças que se encontravam a bordo, e não os filhos do secretário de Maturara.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 24 de Fevereiro de 1917)

Desenho da canhoneira "Tete" por Luís Filipe Silva

Características da canhoneira “Tete”
Construtor: Estaleiros Parry & Son, Lisboa, 1903
Deslocamento: 70 tons
Dimensões: Pp 30,48 mts - Boca 3,20 mts - Pontal 0,55 mts
Propulsão: 1 máquina de 100 Hp - 10 m/h
Guarnição: 28 tripulantes

A catástrofe da canhoneira “Tete”
Entre outras manifestações de pesar, consignadas pela direcção do Centro Comercial (a), em sua sessão de ontem, e das quais será dado conta no extrato da mesma sessão, aquela coletividade resolveu que na respectiva acta ficasse exarado também o seu mais vivo sentimento pela explosão da canhoneira “Tete” que, além da perda daquela unidade naval, causou, como é sabido, algumas vitimas pessoais; e desta manifestação de pesar foi igualmente resolvido dar conhecimento ao venerando chefe do Estado e ao sr. presidente do Ministério.
Em cumprimento, pois, da deliberação tomada foram ontem mesmo expedidos pelo sr. presidente do Centro Comercial os seguintes telegramas:
«Exmo. presidente da República, Palácio de Belém, Lisboa – A direcção do Centro Comercial do Porto respeitosamente exprime a V.Exa. os sentimentos do seu mais vivo pesar, pela catástrofe da canhoneira “Tete”, ainda mais para deplorar por haver causado vitimas pessoais, além da perda daquela unidade naval. (ass.) Luiz A. Marques de Sousa, presidente do Centro Comercial.»
«Exmo. presidente do Ministério, Lisboa - A direcção do Centro Comercial do Porto associa-se ao pesar do governo, da digna presidência de V.Exa., e da briosa armada portuguesa pela catástrofe da canhoneira “Tete” que, além de haver inutilizado aquela unidade naval, causou também perda de vidas, ainda mais para lamentar. (ass.) Luiz A. Marques de Sousa, presidente do Centro Comercial.»
(In jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 25 de Fevereiro 1917)
(a) Nome utilizado à época pela Associação Comercial do Porto.

O desastre da “Tete”
Um telegrama recebido hoje no ministério das colónias diz ter falecido já, em consequência dos ferimentos recebidos no desastre da “Tete”, a esposa do respectivo comandante, tenente Barcellos, e que a esposa do director dos correios de Mutarara continua em estado grave.
A criança de peito, filha dos falecidos, de que não havia noticias, está no Chinde, entregue aos cuidados de pessoa amiga.
Foi ordenado ao departamento marítimo de Moçambique que proceda a um inquérito acerca das causas que motivaram a explosão desta canhoneira.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 2 de Março de 1917)

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