sexta-feira, 6 de novembro de 2015

A barca "Bella Vista"


Ocorrência marítima

Estava dando sérios cuidados a demora desta barca, saída de Nova Orleães há 74 dias, com um carregamento de aduela e ferro para a firma B. Vareta & Santos, Limitada.
A barca pertence ao armador sr. Joaquim Eduardo Milhomens (a), da praça de Lisboa, e é seu capitão o sr. Manoel José Peres Ramos.
Ontem, pelas 7 horas da manhã, a “Bella Vista” apareceu a descoberto do porto de Leixões, a reboque do vapor grego “Panaghi Vagliano” (b), que a encontrou ante-ontem, às 2 horas e trinta minutos da tarde, na latitude 40º47’30”N, longitude 8º55’W, com avaria na mastreação, velame e aparelho respectivo, devido ao temporal que apanhou.
O mar destruiu-lhe ainda parte da borda falsa, tanto do lado de bombordo como de estibordo, correndo a barca grande perigo, por se encontrar próximo do costa e o estado do tempo não permitir, com facilidade, a reparação das avarias recebidas no massame.
O capitão pediu então reboque ao “Panaghi Vagliano”, o qual às 5 e 20 p.m., passou um cabo à barca, a 30 milhas a sudoeste de Leixões, rebocando-a até à entrada deste porto.
Para dentro da bacia foi depois a “Bella Vista” rebocada pelo rebocador “Mondego”.
O “Panaghi Vagliano” entrou depois no referido porto. É de 1.878 toneladas de registo e vem de Rosário (Republica Argentina), em 30 dias, com um importante carregamento de trigo para diversas casas da praça do Porto e consignado à firma Kendall, Pinto Basto & Cª.
A barca “Bella Vista” aguarda a melhor ocasião de entrar a barra da Foz para fundear no rio Douro.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta, 22 de Novembro de 1916)

(a) No Lloyd's Register of Shipping é considerado como armador deste navio a Companhia de Navegação de Portugal, Lda. Por sua vez na lista de navios mercantes portugueses aparece o nome de Francisco Silvério da Silva, todos de Lisboa. Levantada a dúvida e sem melhor opinião, parte-se do princípio que ambas as pessoas mencionadas individualmente, possam ter sido sócios da referida Companhia. 

(b) O vapor “Panaghi Vagliano” foi um navio construído por R. Cruggs & Sons, Ltd., em Middlesbrough, Inglaterra, em Julho de 1904, sendo propriedade de A.S. Vagliano. Estava registado no porto de Argostoli, Grécia, tinha 2.979 toneladas de arqueação bruta e 1.878 toneladas de arqueação liquida, com 101 metros de comprimento.

Desenho de uma barca sem referência ao texto

Características da barca “Bella Vista”
Armador: Francisco Silvério da Silva, Lisboa
Nº Oficial: 404-C - Iic: H.D.F.G. - Porto de registo: Lisboa
Construtor: G. Olsen, Lillesand, Noruega, 1895
ex "Guldregn", Henriksen Hansen, Lillesand, Noruega
Arqueação: Tab 550,15 tons - Tal 522,64 tons
Dimensões: Pp 44,60 mts - Boca 9,66 mts - Pontal 4,70 mts
Propulsão: À vela
Equipagem: 15 tripulantes

Muito embora o naufrágio deste navio não conste na página oficial de sinistros publicada na lista de navios mercantes portugueses, existe a indicação da barca ter desmastreado em pleno Atlântico, no dia 2 de Abril de 1924, eventualmente por motivo de forte temporal. A tripulação abandonou o navio, em mais de um escaler, porque apenas sete tripulantes foram resgatados e salvos pelo navio “Starlight” (c), no dia 5 de Abril, sendo desconhecido o paradeiro dos oito restantes.

(c) O vapor “Starlight” foi um navio construído por Irvine & Co., Ltd., em West Hartlepool, Inglaterra, em Abril de 1902, sendo propriedade da firma Regier Shipping Co., Ltd. Estava registado no porto de Leith, Inglaterra, tinha 2.944 toneladas de arqueação bruta e 1.891 toneladas de arqueação liquida, com 96 metros de comprimento.

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