sexta-feira, 12 de junho de 2015

Uma janela para o sal


Dias de sal, da ria, do mar e do sol…

Podemos viajar até Aveiro para procurá-lo, tentar reencontrá-lo como outrora plantado nas terras que ladeiam a planície molhada, resultado de inundações. Vê-lo florescer tal altar de diamante cristalizado, cuja existência dependia dum simples, mas sincopado mover das águas. Dele, desde os princípios do mundo, provinha benefício para quem o lavrava arduamente, de sol a sol, com sabores a pão que o diabo amassou.
O sol ainda se vislumbra por lá, o sal não!


Confesso o meu parco conhecimento sobre a produção de sal e nem tão pouco imaginei que pudesse haver tanta biografia sobre o assunto. A explicação para essa ausência de preocupação passa porventura pela capacidade de poder apreciá-lo, já diluído, apaladando as refeições desta vida.
Ao adquirir o livro “Uma janela para o sal”, melhorei substancialmente a informação necessária, para de entre outras situações, ficar a nutrir um imenso respeito por marnotos e pela actividade por eles desenvolvida, pela herança e memória de parte do povo no qual me incluo, e ainda pela descoberta de mais palavras que servem, também, para o enriquecimento de qualquer dicionário.
Deste trabalho recentemente dado a publicar por Ana Maria Lopes e Etelvina Almeida, com imagens de Paulo Godinho, retiro este pequeno excerto:

Ali, na eira, em cima do monte de sal, marnoto e moço agasalham e afagam o produto da safra, com fervor que o suor já se esfumou…
É com braçadas de bajunça, criada pela ria, que se cobre o monte.
Entrelaçadas e acamadas são chapeadas com lama, em forma de pé de galinha, como reforço.
Urde-se a capa de Inverno, que os tempos serão agrestes.
O sal ali aguardará, protegido, até que o leve o barqueiro no seu saleiro.
Esse sal novo, velho ficará e noutra safra se recolherá.

Obviamente, se lhe der interesse ou curiosidade perceber como acontece este milenar milagre da transformação, consulte o resto do texto e desfrute da coleção das imagens magníficas que o ilustram, através do sítio www.aletheia.pt

Sem comentários: