sábado, 11 de janeiro de 2014

História trágico-marítima (CX)


O naufrágio do patacho “Harriet”, na barra do Douro

Imagem de um patacho, sem correspondência ao texto

Naufrágio
Teve lugar hoje (05.03.1873) pela manhã mais um sinistro na barra do Porto. Pelas 7 horas, apareceu à barra o patacho inglês “Harriet”, porém como o mar estivesse um tanto agitado, do castelo fizeram-lhe sinal para que não entrasse. Não obstante esta prevenção, o patacho meteu-se à barra e em consequência disso foi de encontro à pedra denominada «Folga Manada», onde bateu, indo depois encalhar no Cabedelo. O rombo que o navio sofreu foi tal, que desde logo começou a meter grande porção de água, vendo-se a tripulação em perigo.
De terra lançaram então um foguete de salvação para o patacho e por meio dele colocaram um cabo de vai-vem, pelo qual a tripulação salvou as bagagens, vindo depois para terra. O navio na baixa-mar ficou em seco, procedendo-se ao salvamento da carga, que se crê poder-se tirar-se toda. O patacho vinha da Terra Nova, com bacalhau, consignado aos srs. Noble & Murat.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta-feira, 5 de Março de 1873)

Acerca do patacho “Harriet”
Relativamente ao naufrágio que se deu ontem de manhã à entrada da barra do rio Douro, há mais as seguintes informações:
Quando do castelo foi dado sinal à embarcação para não entrar, o capitão quis virar para fora, mas escasseando-lhe de repente o vento, que era fresco, não o pode fazer, indo então o navio encalhar no Cabedelo. O velame, massame e parte da carga foram salvos sem avaria, porque foi tirada na ocasião em que a maré estava na baixa-mar.
Logo que a maré tornou a encher pararam os trabalhos de descarga e fecharam-se as escotilhas, receando-se que com a enchente da maré o patacho se desfizesse de encontro às pedras que lhe estão próximas. Isto felizmente não se deu, havendo portanto esperança de salvar não só o resto da carga, como talvez o casco. Desconfia-se que tanto o navio como a carga estejam seguros em alguma companhia inglesa.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta-feira, 6 de Março de 1873)

Identificação provável do patacho “Harriet”
Armador: Bowring & Co., Liverpool, Terra Nova
Construtor: Cox, Bridgeport, Terra Nova, Maio de 1860
Arqueação: Tab 186,00 tons
Dimensões: Pp 31,39 mts - Boca 6,58 mts - Pontal 3,96 mts
Propulsão: À vela
Acerca do patacho “Harriet”
Tem continuado a descarga do bacalhau a bordo do patacho “Harriet”, naufragado próximo do Cabedelo. O bacalhau que tem saído ultimamente vem molhado, por ter entrado o mar na embarcação, por efeito do rombo que sofreu. Esta noite, como a maré o permitiu, continuaram a tirar a carga. O bacalhau salvo tem sido depositado nos armazéns do sr. Murat, e o velame, massame, correntes, etc., estão na alfândega. Por contrato feito entre os signatários do navio e o sr. Schneider foi este sr. encarregado dos salvados. A arrematação do casco e mais pertences deve provavelmente efectuar-se amanhã. O patacho pertencia à praça de Liverpool.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta-feira, 7 de Março de 1873)

Patacho “Harriet”
Acerca do patacho inglês “Harriet”, naufragado na terça-feira quando vinha a entrar a barra, há agora mais os seguintes pormenores:
O navio e a carga estavam seguros mas não o frete. Graças à energia empregue pelos consignatários e pelos salvadores, acto contínuo ao sinistro, tem-se salvo todos os aprestos e utensílios do navio e cerca de uma quarta parte da carga. A parte desta que está a bordo receia-se que esteja em mau estado, em consequência da água entrada a bordo; no entanto fazem-se esforços para salvar mais alguma na ocasião da maré vasa.
Foi feita vistoria ao casco na sexta-feira para julgar da navegabilidade do navio e foi decidido que fosse posto em hasta pública quanto antes, para benefício dos interessados. Tem lugar a arrematação do visto e não visto do navio e de alguns aprestos que se acham no Cabedelo, amanhã pelas 10 horas da manhã. Não entra na arrematação a carga que ainda se acha a bordo. Amanhã de tarde principia também a arrematação do bacalhau salvo, começando a venda pelo que está armazenado na casa da alfândega velha. Brevemente será marcado dia para a arrematação dos demais aprestos do navio, que se encontram armazenados no barracão da estiva velha e sobre o cais contíguo.
(In jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 9 de Março de 1873)

Arrematação
Teve ontem lugar na praia do Cabedelo a arrematação do visto e não visto do patacho inglês “Harriet”, ultimamente naufragado ao entrar a barra. Foi tudo arrematado pelo sr. João José Rebelo de Magalhães por 344$500 réis, à excepção do leme, que foi arrematado por 2$000 réis pelo sr. Manoel Gonçalves Logarinho. Assistiram à arrematação como presidente o sr. Francisco Rodrigues de Faria, 1º oficial da alfandega, como escrivão o sr. António de Faria Carneiro e como pregoeiro o sr. Joaquim da Silva, tendo assistido também os srs. C.H. Noble & Murat, na qualidade de representantes do capitão e da companhia de seguros.
Algum do bacalhau de que constava o carregamento tem sido vendido em leilão, aos preços de 5$000 a 8$300 réis, conforme o seu estado. O resto da carga tem sido abandonado, em consequência do seu péssimo estado. Pelos rombos que o navio tem no fundo tem saído muito bacalhau, sendo o que o mar arroja ao Cabedelo logo tomado pela gente da costa, que não deixa em sossego os guardas da fiscalização. Estas atitudes têm dado lugar a conflitos, não obstante o estado do bacalhau ser tal, que não pode aproveitar aos que o tomam.
A arrematação dos salvados do patacho deve ter lugar amanhã no cais da Estiva. Os salvados constam de velame, massame, poleame, cabos, botes, correntes de ferro, ancoras, metal de cobre e outros objectos.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 11 de Março de 1873)

Arrematação de salvados
Verificou-se ontem na cais da antiga casa da Estiva a arrematação de parte dos salvados do patacho inglês “Harriet”, que constavam de massame, poleame, dois botes, guincho e outros aprestos do navio. Estes objectos produziram a quantia de 678$450 réis. Além destes, foram também arrematados a peso e por diferentes preços algumas correntes, ancoras, chumbo e cobre.
Hoje, à mesma hora continua a arrematação do resto dos salvados, que constam do velame, cabos e vergas. Preside à arrematação o sr. Francisco Rodrigues de Faria, é escrivão o sr dr. António de Faria Carneiro e pregoeiro o sr. Joaquim da Silva. Representam o capitão do patacho e a companhia de seguros os srs. C.H. Noble & Murat.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta-feira, 13 de Março 1873)

Arrematação de salvados
Concluiu-se ontem a arrematação do resto dos salvados do patacho inglês “Harriet”. Consistiam estes em vergas, cabos, velas, viradores e outros objectos, o que tudo foi arrematado por diferentes preços e em diversos lotes por vários licitantes, pela quantia de 871$510 réis, sendo das vergas 190$900, das velas 594$150 e de diversas miudezas 86$460 réis.
O produto dos cabos e viradores ainda não é conhecido, porque foram arrematados por cada 60 kilos, não se podendo saber senão depois de verificado o seu peso. Em idêntico caso estão as correntes, ferros, chumbo e cobre, que também foram arrematados a peso.
À arrematação estiveram presentes os empregados da alfândega referidos anteriormente, bem como os consignatários do navio, em representação do capitão e da companhia de seguros.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta-feira, 14 de Março de 1873)

Patacho “Harriet”
Concluiu-se ontem a arrematação dos salvados do patacho inglês “Harriet”. O produto da arrematação foi o seguinte:
Objectos arrematados no dia 12, 678$450 réis; ferros, ancoras, chumbo e cobre, 727$245 réis; miudezas, 86$460 réis; vergas, 190$900 réis; velas, 594$150 réis e cabos e viradores, 288$430 réis. Total 2:565$635 réis.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 15 de Março de 1873)

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