sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

História trágico-marítima (CIV)


O encalhe do vapor inglês "Earl of Dumfries"

Naufragou esta manhã (06.08.1883), próximo de Cascais, por causa do nevoeiro, o vapor “Earl of Dumfries”, que ficou completamente perdido.
Salvaram-se os tripulantes, passageiros e bagagens.
(In jornal “Comércio do Porto”, segunda, 6 de Agosto de 1883)

Imagem do vapor encalhado próximo a Cascais
Foto de autor desconhecido - Colecção Francisco Cabral

Identificação do vapor
Armador: W.H. Martin & Hilary B. Marquand, Cardiff, Inglaterra
Construtor: Samuel Peter Austin & Son, Sunderland, 07.1882
Arqueação: Tab 1.445,00 tons - Tal 840,00 tons
Dimensões: Pp 74,55 mts - Boca 11,00 mts - Pontal 5,27 mts
Propulsão: 1 motor compósito, 2:Ci - 158 Nhp - 88 Ihp
Equipagem: 21 tripulantes
Vendido em 1910 mudou o nome para “Andora”. Demolido em Savona (Itália), em 1931.

Vapor “Earl of Dumfries”
Lisboa 5 – Hoje às 4 horas e cinquenta e cinco minutos da manhã veio aviso da estação de Oitavos, que na Lage do Ramela, próximo do farol da Guia, se achava encalhado um vapor. A cerração estava fechada completamente. Soube-se depois ser o vapor inglês “Earl of Dumfries”, que vinha de Taganrog (Rússia), por Malta, e se destinava a Altona (Alemanha), com carga de cereais. Tripulado por 21 homens conduzia 10 passageiros. Estes, bagagens e tripulantes desembarcaram com facilidade, porque o mar estava chão. Não houve perda de vidas. Às 6 horas a cerração ainda era densa, segundo participaram de Cascais.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça, 7 de Agosto de 1883)

Vapor “Earl of Dumfries”
Lisboa 6 – O sr. Governador civil de Lisboa foi ontem ao local do naufrágio do vapor inglês “Earl of Dumfries”, e ordenou que os tripulantes e passageiros embarcassem no mesmo vapor, e que ali se conservassem enquanto não fosse conhecido o motivo pelo qual o navio não quisera entrar em Malta, para se não sujeitar a quarentena.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça, 7 de Agosto de 1883)

Vapor “Earl of Dumfries”
Como estivesse com os náufragos do vapor “Earl of Dumfries” o sr. Eduardo Ferreira Pinto Basto, e aqueles recebessem ordem de ir para o lazareto, foi também com eles o referido cavalheiro. O vapor tem carta limpa, mas o facto de ter entrado em Malta, onde existe quarentena para as procedências do Egipto, deu lugar às providências que foram adotadas a este respeito.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta, 8 de Agosto de 1883)

Vapor “Earl of Dumfries”
Quando o chefe do distrito chegou no Domingo à praia da Guia, onde encalhara o vapor “Earl of Dumfries”, já ali estava o chefe do corpo de fiscalização externa da alfândega, sr. D. Joaquim de Melo, acompanhado de 11 guardas e 10 remadores. A pedido daquele empregado fiscal, o sr. governador civil mandou retirar para Lisboa sete polícias que o haviam acompanhado, e por ordem do magistrado superior do distrito estabeleceram logo um cordão sanitário para evitar que os náufragos comunicassem com a terra, sendo em seguida o capitão do navio intimado a recolher com os tripulantes e passageiros ao vapor encalhado ou às fragatas que estavam próximas. A princípio o capitão negou-se a cumprir tal ordem, declarando ter resolvido armar com os salvados no vapor, uma barraca na praia, e conservar-se ali com a sua gente até ao momento do vapor se despedaçar ou desaparecer, mas aconselhado por algumas pessoas obedeceu à intimação. Ante-ontem foi determinado ao capitão do porto que informasse se o “Earl of Dumfries” estava ou não completamente perdido, para no caso afirmativo, se mandar recolher os náufragos ao Lazareto. A vistoria feita por ordem do arsenal da marinha declarou que o casco do vapor talvez possa ser salvo.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta, 9 de Agosto de 1883)

Vapor “Earl of Dumfries”
Entraram no Lazareto os passageiros do vapor “Earl of Dumfries”. Parte do carregamento já está salvo. Do vapor encalhado “Earl of Dumfries” há já muitas fragatas carregadas com centeio, cumprindo quarentena em Belém.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 10 de Agosto de 1883)

Vapor “Earl of Dumfries”
Estavam ontem a cumprir quarentena em frente da praia do Bom Sucesso, trinta e tantas fragatas carregadas de centeio do encalhado vapor “Earl of Dumfries”.
(In jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 12 de Agosto de 1883)

Vapor “Earl of Dumfries”
Ainda não estão perdidas as esperanças de salvar o vapor “Earl of Dumfries”, que há dias naufragou próximo a Cascais. Ontem foi para junto dele o rebocador “Scotia”, vindo expressamente de Inglaterra com duas grandes bombas de esgoto.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça, 28 de Agosto de 1883)

Vapor “Earl of Dumfries”
Com o auxílio de um rebocador foi conseguido safar o vapor “Earl of Dumfries”, que já se encontra fundeado no Tejo.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta, 30 de Agosto de 1883)

Vapor “Earl of Dumfries”
O vapor “Earl of Dumfries” que estava havia cerca de 15 dias encalhado junto do farol da Guia, conseguiu ontem de manhã, com o auxílio dos rebocadores “Scotia” e “Portimão”, safar-se do local onde se encontrava, e seguindo para a barra, entrou no Tejo pouco depois das 3 horas da tarde, indo fundear na Cova da Piedade. Os dois rebocadores acompanharam-no até ao local do ancoradouro.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 31 de Agosto de 1883)

Vapor “Earl of Dumfries”
Saiu ante-ontem do dique do arsenal de marinha o vapor inglês “Earl of Dumfries”, que ali esteve a receber uma reparação provisória, a fim de poder seguir para Inglaterra, onde irá fazer o verdadeiro concerto de que carece. Fizeram-lhe ante-ontem a competente vistoria e acharam estar nas melhores condições para empreender a viagem.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça, 23 de Outubro de 1883)

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