sábado, 14 de dezembro de 2013

História trágico-marítima (CIII)


O naufrágio do vapor "Luso"

Paquete naufragado
Reinava certa ansiedade em Lisboa pela demora que havia na chegada do paquete “Luso”, que era esperado vindo dos Açores, ansiedade que acaba por ser tristemente justificada.
Segundo se apura pelos telegramas recebidos, aquele paquete naufragou em Ponta Delgada, no passado dia 26 de Julho. Salvaram-se, felizmente, todas as pessoas que se encontravam a bordo.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta, 15 de Agosto de 1883)

Gravura alusiva ao naufrágio do vapor "Luso",
segundo uma fotografia de J. Pacheco Toste
(Reis, A. Estácio dos Reis, Os Navios d'Ocidente, Gradiva, 2001)

Identificação do vapor
Armador: Empresa Insulana de Navegação, Lisboa
Nº Oficial: N/ tem - Iic.: H.D.F.J. - Registo: Ponta Delgada
Construtor: Bowdler, Chaffrer & Co. Liverpool, 02.10.1875
Arqueação: Tab 999,00 tons – 1.071,000 m3
Dimensões: Pp 72,10 mts - Boca 8,90 mts - Pontal 6,71 mts
Propulsão: 1 motor compósito

Desenho do vapor "Luso" - Original de Luís Filipe Silva

Vapor "Luso"
Causou sensação a notícia do naufrágio do vapor “Luso”, assim que a informação foi divulgada ante-ontem de manhã, de acordo com a comunicação feita pelo couraçado “Vasco da Gama” ao chegar à baía de Cascais. O ministério da marinha, quando recebeu a participação, mandou-a comunicar ao agente da empresa, o sr. Germano Serrão Arnaud, que foi em seguida a Cascais saber pormenores do comandante do couraçado. Pouco, todavia, adiantou.
A bordo do “Luso” tinham seguido viagem para os Açores 72 passageiros, navegando em 1ª classe os seguintes senhores: Duarte Borges, António de Andrade Albuquerque, José Pereira da Cunha Silveira e Sousa, Cândido Forjaz, Guilherme Augusto de Aguiar, barão de Ramalho, António da Fonseca, Sebastião Correia da Silva Leal e sua mãe, José Martins Cardoso Pereira, esposa e filho; e da segunda classe os seguintes: D. Maria Cândida da Rocha, José Cordeiro de Castro, João de Almeida e sua mulher, João Borges Leoni, Miguel Inácio do Amaral, Ramiro Martins Cardoso e Manuel Rodrigues.
O “Luso” fôra expressamente mandado construir pela Empresa Insulana de Navegação, em 1875, em Liverpool, à casa construtora Bowler Cheffter & Co. Tinha a lotação de 1.071 metros cúbicos e media 280 pés de comprido, 29 de boca, 22 de pontal; tinha acomodações para 60 passageiros de 1ª classe, 24 de 2ª e 50 de 3ª. O vapor “Luso” estava seguro em 15.000 libras.
O naufrágio deu-se às 11 horas da noite do dia 26, e não 28 como se dizia, e foi efectivamente por causa da cerração. A carga julga-se quase toda perdida.
O “Açor” chegara a S. Miguel no dia 8, às 7 horas da tarde, e é esperado em Lisboa no dia 21. Logo que chegue receberá ordem para seguir de novo para os Açores. Estas notícias vieram ante-ontem na mala que trazia o iate “Novo Rasoulo”, chegado de S. Miguel.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 17 de Agosto de 1883)

Arrematação de salvados
O casco do vapor “Luso” foi ali vendido por um conto de réis; os utensílios e restos salvados por três contos; e vinte pipas da carga por 300$000 réis. O resto foi comprado pelos srs. Bensaúde, Avelares, etc.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 24 de Agosto de 1883)

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