sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Veleiros Portugueses (1)


O lugre “ Lídia “ (II)
Armador: José Joaquim Gouveia - Parceria Marítima Douro, Porto
1918 – 1935
= 2ª Parte =

Imagem do navio correspondente à data do bota-abaixo em Fão
Foto do construtor sr. Borda Júnior, na Ilustração Portuguesa

Este lugre cuja construção orçou em Escudos 10.000$00 foi sistematicamente utilizado em viagens de longo curso, no serviço comercial, não havendo confirmação de alguma vez ter participado em campanhas na pesca longínqua. Na ausência de pormenores dignos de registo nos anos seguintes, o que antecipa ter tido uma existência sem incidentes, foi apenas noticiado a 9 de Novembro de 1927, por motivo de encalhe na barra do porto de Setúbal, onde havia chegado procedente das Canárias, para naquele porto carregar uma partida de sal. Recupero essas mesmas notícias, como segue:
1 - Ontem à noite foi recebido um telegrama da Capitania do porto de Lisboa, comunicando que em frente à Torre do Outão, Setúbal, encalhou o lugre “Lídia”, da praça de Lisboa, pertencente à firma Bagão, Nunes & Machado, Lª. Em seu socorro saiu do Tejo pela meia-noite o rebocador “Cabo da Roca”, da Exploração do porto de Lisboa.
(In jornal “O Século”, de 11 de Novembro de 1927)
2 - O lugre “Lídia” encalhou na praia da Rainha, Torre do Outão, local que serve de recreio e curas de sol aos pequenos internados no Sanatório. Não é crítica a situação do navio, visto que está enterrado na areia, em ponto que só poderá ser batido pelo mar, desde que volte o mau tempo. Informa o capitão Sr. José Gonçalves Dias, que o lugre trazia 15 dias de mar, em viagem desde as Canárias. Tinha a bordo apenas o lastro de areia e destinava-se a Setúbal para receber um carregamento de sal. Aquando do ciclone, na madrugada de 5 do corrente, o veleiro encontrava-se a cerca de 20 milhas ao largo de Sines. Apanhado de surpresa, o tempo correu com ele em árvore seca, até em frente de S. Martinho do Porto, tendo o navio aguentado firme até ser possível fazer rumo a Sul, com destino a Setúbal. Na barra deste porto, depois de meter a bordo o piloto Sr. Salvador José Matias, singrou sem novidade até ao mar do Outão. Nessa altura o vento contrário e a força da corrente dificultaram a manobra, sendo levado a pouco e pouco para terra, impelido pelo mar. O lugre pertence à praça do Porto e é propriedade do Sr. José Joaquim Gouveia, que já se encontra no local, em representação da Parceria Marítima Douro.
(In jornal “O Século”, de 15 de Novembro de 1927)
Apesar de não ter encontrado referências à operação de desencalhe do navio, o facto de apresentar novas características a partir de 1928, sugere que o lugre terá ido a estaleiro, para ser sujeito a obras de reparação e beneficiação, que tanto podem ter tido lugar em Setúbal, como no rio Douro. Depois de completados os trabalhos, o lugre ficou matriculado de acordo com os seguintes detalhes:

Características do navio em conformidade com a lista de 1929
Nº Oficial: B-122 - Iic.: H.L.I.D. - Registo: Capitania do Douro
Arqueação: Tab 455,36 tons - Tal 405,05 tons – Porte 800 tons
Dimensões: Pp 41,21 mts - Boca 9,70 mts - Pontal 4,29 mts
Propulsão: À vela, sem motor auxiliar
Equipagem: 11 tripulantes

De regresso ao serviço comercial navegou até ao ano de 1935. No ano anterior foi-lhe modernizado o Indicativo Internacional de Chamada, cabendo-lhe as iniciais C.S.J.U. Após 1936, o lugre deixa de constar na lista dos navios nacionais, supostamente por ter sido considerado inavegável. Todavia, já desmastreado, reaparece com nova matrícula, agora como fragata de carga a operar no rio Douro e em Leixões, até que se lhe perde definitivamente o rasto.

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