domingo, 11 de dezembro de 2011

História trágico-marítima (LVII)


Naufrágios de 1871
(VI) Barca portuguesa “Maria”, a 20 de Fevereiro de 1871

Desenho de uma barca, sem correspondência ao texto

--- Notícia de naufrágio ---
No dia 20 de Fevereiro a barca portuguesa “Maria”, entrando com vento norte, já próximo do Cabedelo, outras embarcações tomaram-lhe o vento, perdeu o regimento, apoderaram-se dela as ondas e encalhou na restinga do Cabedelo, onde foi despedaçada pelo mar, salvando-se a tripulação.
(In “Boletim Mensal da A.P.D.L.”, Mapa do movimento da barra do Porto, nos anos de 1871 e 1872, pág. 12, sem identificação do ano de publicação).
--- Naufrágio ---
Ontem às três horas da tarde, vindo a entrar a barca “Maria”, quase na ocasião em que já estava dentro da barra, faltou-lhe o vento e foi encalhar na restinga do Cabedelo, defronte do Salva-vidas. Dali saiu imediatamente o barco para receber os tripulantes, que conseguiu trazer a salvo para terra. O piloto que pilotava o navio antecipando o socorro, lançou-se ao mar e pode com felicidade alcançar a praia.
Quanto ao navio, não está completamente perdido, como o fizeram acreditar as primeiras participações, que da Foz vieram para a repartição da capitania do porto e Associação Comercial. A barca conservou-se direita durante o dia e, como o mar estava bonançoso, permitiu que ao cair da tarde fossem a bordo buscar a roupa dos marinheiros e alguns objectos do navio, como o cronómetro, diário, etc.
No local do sinistro compareceram, logo que tiveram conhecimento do naufrágio, os srs. Capitão do porto, Patrão-Mor e Real, chefe interino da fiscalização externa da alfândega. Aqueles deram as providências para que o navio fosse espiado convenientemente, a fim de melhor poder resistir aos embates das ondas e, este providenciou para que fossem resguardados os salvados do navio, determinando que durante a noite ficassem em barracas os empregados da fiscalização externa.
Durante a noite foram empregues esforços para aliviar o navio, tendo apenas sido possível descarregar 100 caixas de petróleo e o pano da embarcação. Às oito horas da manhã, o navio ainda se conservava direito, mas já fazia alguma água. A essas horas não havia gente que quisesse trabalhar, porque só davam a 5ª parte dos salvados e por essa oferta ninguém se queria arriscar a ir a bordo para aliviar o navio. À vista dessa decisão, é de supor que o barco se perca completamente, apesar do mar estar muito bonançoso.
A barca “Maria” é propriedade do sr. António Francisco da Silva Nunes, vinha de Liverpool e trazia carga de arroz, ferro e petróleo. Foi justo o salvamento desta mercadoria por 12 libras. O navio e a carga estavam seguros na Companhia La Española, de que são representantes na cidade os srs. D. Félix Fernandes Torres e Viegas dos Santos.
(In jornal “Comércio do Porto”, de 21 de Fevereiro de 1871)
--- Barca “Maria” ---
Acerca do naufrágio da barca “Maria”, sucedido na segunda-feira à tarde, existem agora outros pormenores: A tripulação foi salva pelo salva-vidas e por um saveiro. Na ocasião em que o navio encalhou, o piloto supranumerário Sebastião Pedro dos Santos, que ia a bordo, atirou-se inconscientemente ao mar e a nado alcançou o Cabedelo, para depois ser ajudado a vir para terra por um vareiro, não identificado. A tripulação, parte foi recolhida no estabelecimento do salva-vidas e parte por pessoas dos seus conhecimentos.
A barca “Maria” procedia de Liverpool e a sua carga consistia em arroz, ferro e carvão. Às 10 horas da manhã de terça-feira, o navio estava com a quilha partida, sem leme e aberto por todos os lados. À mesma hora estava gente dentro da embarcação para tirar alguma carga, o que foi conseguido durante o tempo da baixa-mar, salvando algum arroz. Depois daquela hora foi ainda possível retirar o massame do navio. Ontem de manhã a barca estava cheia de água, o casco e parte da carga podiam julgar-se completamente perdidos.
(In jornal “Comércio do Porto”, de 23 de Fevereiro de 1871)
--- Barca “Maria” ---
Esta barca naufragada na última segunda-feira, conserva-se ainda no Cabedelo, tendo, porém, principiado já a ser desfeita. Amanhã, Domingo, deve verificar-se no sítio da Cantareira, por conta das companhias de seguros «Garantia» e «La Española», de Madrid, ou de quem pertencer, a arrematação da referida barca, no estado em que estiver no referido dia. Ontem de tarde na baixa-mar, pode ser salva alguma carga e durante o tempo da preia-mar foi conseguido retirar o mastro da mezena.
(In jornal “Comércio do Porto”, de 25 de Fevereiro de 1871)
--- Barca “Maria” ---
Ainda se conserva direito o casco da barca “Maria”, naufragada no dia 20 na restinga do Cabedelo. Tem continuado os trabalhos a fim de lhe ser tirada alguma carga, muito embora já se encontre muito arroz inutilizado. Os trabalhos de extracção da carga, tem também por fim aliviar o navio, com a finalidade de ver se ainda pode ser salvo. Por esse motivo não teve lugar no Domingo, na Cantareira, a arrematação que estava anunciada.
(In jornal “Comércio do Porto”, de 28 de Fevereiro de 1871)
--- Barca “Maria” ---
Ontem de manhã desfez-se completamente o casco da barca “Maria”, que se achava encalhada na ponta do Cabedelo, perdendo-se por isso a esperança de o salvar.
Teve ontem lugar no cais da Nova Alfandega, a arrematação de alguns dos salvados da barca “Maria”, há pouco naufragada na restinga do Cabedelo. Foram arrematados 26 balões de linho cânhamo à razão de 1$490 réis cada 60 kilos. A arrematação continua hoje e nos dias seguintes.
(In jornal “Comércio do Porto”, de 1 de Março de 1871)
--- Arrematação de salvados ---
Continuou ontem no cais da Nova Alfandega a arrematação dos salvados da barca “Maria”. Foram arrematados por diferentes preços os seguintes objectos, que faziam parte do carregamento; verguinha de ferro, pedra hume, galha, cal e goma-arábica. Presidiram à arrematação os srs. Francisco Rodrigues de Faria e o Dr. Carneiro. Esteve presente por parte do seguro o sr. A. Miller. No Domingo seguinte foram arrematados no mesmo local os mastros, velame, poleame e correntes que se salvaram, bem como os sobresselentes, que constam de tintas, óleo, louças e outros objectos.
(In jornal “Comércio do Porto”, de 2 de Março de 1871)

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