domingo, 19 de junho de 2011

História trágico-marítima (XI)


O naufrágio do “ Hammonia “ (2)

Há vitimas – O seu número
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Vigo, 12 de Setembro – Chegou a este porto o vapor “Euclid”, desembarcando os náufragos do transatlântico “Hammonia”. Os restantes sobreviventes foram transportados para Gibraltar no vapor “Soldier Prince” e para Liverpool no “City of Valencia”.
O último barco que prestou auxílio e ficou nas proximidades do “Hammonia”, até que este se afundou, foi o transatlântico “Kinfauns Castle”, que se dirigiu para Southampton com o maior número de náufragos, entre eles o capitão e o comissário do barco. O número de pessoas que iam a bordo era de 559, das quais 180 tripulantes. Os passageiros perderam todos os haveres. Contam os náufragos que, ao iniciar-se a submersão, a confusão foi completa a bordo do “Hammonia” entre a tripulação, sendo por esse motivo que o número de vítimas foi grande, afirmando alguns que se eleva a 50. Alguns náufragos dizem também que viram flutuar à superfície da água vários cadáveres de crianças.
Por enquanto ignora-se o número exacto de pessoas que pereceram na catástrofe. O capitão do “Kinfauns Castle” tentou rebocar o “Hammonia”, mas teve de cortar o cabo ao verificar que o afundamento se tornava rápido.
(In o jornal “O Comércio do Porto”, de 13 de Setembro de 1922).

O naufrágio do “Hammonia”

Mais pormenores
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O primeiro vapor a chegar em auxílio do transatlântico alemão foi o “Kinfauns Castle”. O segundo foi o “Euclid”, que aportou a Vigo com 85 náufragos – 41 tripulantes e 44 passageiros. Continua a ignorar-se a causa do sinistro.
Um dos sobreviventes, cozinheiro a bordo declarou o seguinte:
Pouco depois de sair de Vigo os passageiros notaram varias irregularidades no andamento do “Hammonia”, que não sabiam contudo explicar. No dia seguinte às 5 da manhã, notaram que o vapor voltava para trás com grossas avarias. O mar estava agitado. Às 6-½ os passageiros começaram a levantar-se e a subir à coberta, inteirando-se do perigo. O navio tombava um pouco sobre estibordo.
Às 7 todos estavam a pé na coberta, aguardando os acontecimentos, com um nervosismo fácil de explicar. Às 6 da manhã a água entrava em grande quantidade, ameaçando invadir as padarias e as cozinhas. À mesma hora foi preciso apagar um grupo de caldeiras, por igual motivo. A marcha do “Hammonia” retardou-se muito.
Um fogueiro atribui o afundamento à via de água, que atingiu a porta do depósito de carvão a estibordo. Talvez o compartimento não tivesse sido bem fechado em Hamburgo, ou as trancas ou as roscas dos parafusos tivessem cedido a um golpe de mar, permitindo a entrada de água.
O transatlântico tinha percorrido 120 milhas, a rumo de oeste, quando teve de regressar a toda a velocidade. Isto foi à meia-noite. A essa hora já era acentuada a inclinação sobre estibordo. Só às 7 horas da manhã é que os passageiros tiveram conhecimento exacto do perigo. Lançaram-se rádios pedindo socorro.
O primeiro navio a chegar foi o “Kinfauns Castle”, que se aproximou tanto quanto o permitia o estado do mar. Deu-se logo princípio ao salvamento, lançando-se à água os botes do transatlântico alemão. O primeiro com a precipitação da manobra, devido a não safar-se a tempo do aparelho foi bater contra o costado, afogando-se vários passageiros. O segundo não foi mais feliz. Ao cair na água um golpe de mar voltou-o, perecendo quase todos os seus desgraçados tripulantes. À 1 e meia da tarde chegou também ao local da catástrofe o “Euclid”, a toda a força das máquinas, começando imediatamente a ajudar o “Kinfauns Castle”.
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O terceiro oficial do “Hammonia” ao subir por uma escada de corda para o “Euclid” escorregou, ficando esmagado contra o costado do vapor.
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Um dos episódios mais lancinantes, a que os passageiros salvos se referem com profunda amargura, foi o sucedido a uma mãe, que, ao descer para o bote com três filhos pequenos, dois caíram às ondas, sendo impossível salvá-los.
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Ignora-se o número dos náufragos, porque os sobreviventes foram transportados uns para Vigo, outros para Gibraltar, Southampton e Liverpool. Fala-se porém em 20 passageiros, a maioria crianças e 40 a 50 homens da tripulação.
Todas as pessoas fazem os mais rasgados elogios ao capitão, que empregou os maiores esforços ao seu alcance para evitar a catástrofe e quando ela era irremediável, procurou manter a todo o custo a ordem e a disciplina a bordo, dando as melhores provas de abnegação e de sacrifício. Parece que não sucedeu o mesmo com a tripulação, porque 10 ou 12 homens, que faziam parte dela, só pensaram em si, embaraçando as manobras e dando causa a um tão elevado número de vítimas.
(In jornal “O Comércio do Porto”, de 14 de Setembro de 1922)

Detalhes dos navios que participaram nas operações de salvamento:

“ Kinfauns Castle “
1899 - 1927
Union-Castle Mail Steamship. Co. Ltd., Londres

O "Kinfauns Castle" - Imagem Photoship.Uk

Construtor: Fairfield Co. Ltd., Glasgow, 08.1899
Arqueação: Tab 9.656,00 tons - Tal 4.908,00 tons
Dimensões: Pp 157,06 mts - Boca 18,04 mts - Pontal 10,58 mts
Propulsão: Fairfield, 1899 - 2:Qe - 8:Ci - 1.663 Nhp - 16 m/h
Demolido em Hendrik-Ido-Ambacht, Holanda, 03.10.1927

“ Euclid “
1912 - 1931
Liverpool, Brazil & River Plate Steam Navigation
Lamport & Holt, Liverpool, Inglaterra

O "Euclid" - Imagem Photoship.Uk

Cttr.: Northumberland Ship Building Co. Ltd., Newcastle, 07.1911
ex “Horley”, Duo Steam Shipping, Ltd., Londres, 1911-1912
Arqueação: Tab 4.770,00 tons - Tal 3.096,00 tons
Dimensões: Pp 125,03 mts - Boca 15,85 mts - Pontal 8,53 mts
Propulsão: Earl’s Co. Ltd., 1911 - 1:Te - 3:Ci - 587 Nhp - 12 m/h
dp “Benvannoch”, Petrograd Steamers, Leith, Ingl., 1931-1935
dp “Marie Moller”, Nils & A. Moller, Leith, Inglaterra, 1935-1937
Danificado por incêndio em Holyhead Bay a 22.03.1937 e demolido em Troon, Escócia, a 15.07.1937

“ Michael L. Embiricos “ (petroleiro)
1919 - 1952
S.G. Embiricos, Andros, Grécia
Construtor: Caird & Co. Ltd., Greenock, 06.1918
ex “War Malayan”, Governo Inglês, 1918-1919
Arqueação: Tab 5.197,00 tons - Tal 3.158,00 tons
Dimensões: Pp 122,01 mts - Boca 15,94 mts - Pontal 8,69 mts
Propulsão: Caird & Co., 1918 - 1:Te - 3:Ci - 420Nhp - 11 m/h
dp “Dimitrius”, Bogiazides & Rallias, Grécia, 1952-1953
Perda total por encalhe em Flashes Reef, em 14.12.1953

“ Niceto de Larrinaga “
1916 - 1941
Larrinaga Steam Ship Co. Ltd., Liverpool
Construtor: Russel & Co., Port Glasgow, Escócia, 08.1916
Arqueação: Tab 5.591,00 tons - Tal 3.506,00 tons
Dimensões: Pp 134,05 mts - Boca 17,07 mts - Pontal 8,02 mts
Prop.: Rankin & Blackmore, 1916 - 1:Te - 3:Ci - 483 Nhp - 11 m/h
Torpedeado por submarino alemão na posição 27º32’N 24º24’W em 22.01.1941, com registo de 3 vítimas mortais.

“ Soldier Prince “
1901 - 1932
Prince Line Ltd.
Furness, Withy & Co. Ltd., Newcastle

O "Soldier Prince" - Imagem Photoship.Uk

Construtor: W. Dobson & Co., Newcastle, 12.1901
Arqueação: Tab 3.118,00 tons - Tal 2.029,00 tons
Dimensões: Pp 101,04 mts - Boca 13,50 mts - Pontal 5,30 mts
Propulsão: Blair & Co.,1901 - 1:Te - 3:Ci - 361 Nhp - 10 m/h
Vendido para demolir em Port Glasgow, em Junho de 1932.

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