sábado, 29 de maio de 2010

O falecimento do capitão do lugre "Amphitrite"


Lugre “ Amphitrite “
1912 - 1917
Manuel Nunes da Graça
Parceria Marítima “Boa União”, Lda., Aveiro

Encontrei fortuitamente a notícia do falecimento do capitão Manuel Nunes da Graça, desaparecido no mar por força do acidente ocorrido a bordo, no dia 2 de Dezembro de 1912, que se explica por si. A gravidade do caso e a reconhecida galhardia, paixão e abnegação pela sua vocação marítima, obriga-me a reflectir sobre a sua história, lamentando a parca informação disponível. Porque muito provavelmente é mais um dos valorosos e notáveis capitães Ilhavenses, cujo nome merece constar na galeria, dos heróis que compõem a nossa memória colectiva.

O retrato e registo de falecimento do capitão
Manuel Nunes da Graça
in "Ilustração Portuguesa", Dezembro de 1912

Nº Oficial : 246 > Iic.: H.F.R.T. > Porto de registo : Aveiro
Construtor : Amaro & Macedo, Vila do Conde, 12.09.1912
Arqueação : Tab 179,46 to > Tal 120,34 to
Cpmts.: Pp 35,27 mt > Boca 8,20 mt > Pontal 3,15 mt
Equipagem : 32 tripulantes (incluindo pescadores)
Capitães embarcados : Manuel Nunes da Graça (1912), substituído por João Pereira Ramalheira (1912 até 1915) e Amandio Fernandes Mathias (1916 e 1917).
Este lugre, tal como a grande maioria, depois de ter realizado algumas campanhas de pesca nos Grandes Bancos, esteve colocado a operar na cabotagem internacional, chamado a colaborar no esforço de guerra. Foi nesse período interceptado e afundado por um submarino alemão, a cerca de 40 milhas a Norte do Cabo Prior (Ferrol, Corunha, Norte de Espanha), quando em viagem do Funchal para Bordéus, a 10 de Junho de 1917.

Notícias publicadas sobre o navio, como segue:

1.- O lugre “Amphitrite” afundado pelos alemães próximo da Corunha, tinha sido vendido recentemente pelo Sr. Luiz Bagão, armador em Aveiro, à firma Ramalheira, Pires, Lda. Saíra faz vinte dias do Funchal, com um carregamento de madeira para Bordéus.
In “O Comércio do Porto”, de 12 de Junho de 1917

2.- (El Ferrol, 12) O comando geral da marinha recebeu um telegrama comunicando que, cerca do Cabo Prior, foi recolhido por um navio espanhol o capitão e os tripulantes dum navio português, afundado por um submarino.
In “O Comércio do Porto”, de 13 de Junho de 1917

Comentário às notícias
Sem por em causa a veracidade das informações publicadas, os anos da guerra dificultam a possibilidade de averiguar com rigor, se o Sr. Luiz Bagão foi proprietário por inteiro deste lugre, ou se era um dos sócios da Parceria Marítima “Boa União”, ficando por conseguinte a dúvida, do navio ter tido ou não outros armadores, que por defeito não referimos.
Da mesma forma, na segunda notícia, é posta a hipótese do navio afundado pelo submarino alemão ter sido o vapor “Insulano”, da Empresa Insulana de Navegação, que se soube à posteriori encontrar-se no porto de Bordéus, naquela data. Depois, foi levantado o pressuposto, de poder tratar-se do vapor “Ambaca” da Empresa Nacional de Navegação. Esta suposição, também está errada, porque este navio igualmente torpedeado por um submarino alemão, curiosamente em local próximo, teve lugar a 23 de Dezembro de 1917. Nesta conformidade julgo tratar-se efectivamente do resgate e salvamento da tripulação do lugre, conforme documentado na respectiva memória histórica do mesmo.

1 comentário:

José Luís Malaquias disse...

Obrigado por este post que casualmente descobri. O Capitão Graça era meu bisavô e ainda fui contemporâneo de um marinheiro que assistiu a este acidente.