quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Efeméride - 100 anos decorridos sobre a grande cheia do rio Douro, de 1909


A palestra no Clube Literário do Porto

Conforme previamente anunciado, teve lugar na noite de ante-ontem, uma palestra que visou recordar a grande cheia no rio Douro em 1909, a maior acontecida no século XX, apenas superada em função do caudal de água, pela cheia de 1739. Simultaneamente aproveitamos para lembrar a passagem do 2º aniversário do blog "Navios e Navegadores". Decidi fazê-lo tendo utilizado como sub-titulo a designação "cem anos, cem imagens", perfeitamente explicativas dos dias de grande temporal vividos na cidade.

Vista geral da Ribeira, durante a cheia
Imagem de autor desconhecido

Porque se completam hoje, dia 23, cem anos sobre o pior dia da cheia, lembrarei alguns dos desastres acontecidos aos maiores navios, que se encontravam fundeados no rio. Posso igualmente adiantar, que das 45 embarcações de longo curso, entre vapores, barcas, lugres, escunas, iates, etc., apenas 7 resistiram amarradas nos cais, sendo portanto obrigatório ter bem presente o elevado grau de destruição, que esta cheia provocou.

Panorama da cheia na Cantareira (Foz do Douro)
Imagem de autor desconhecido

Situação das maiores embarcações fundeadas no rio,
em 23 de Dezembro de 1909

Da Armada

“Estephania”, corveta a vapor, de 2.860 toneladas, fundeada em Massarelos desde 1898, funcionando como Escola de Alunos Marinheiros. Comandante Capitão de Fragata Nunes da Silva. Encontrava-se a bordo toda a equipagem composta por 8 oficiais, 58 sargentos e praças e 105 alunos. Violentamente embatida pelo vapor alemão “Cintra”, partiu as amarras seguindo barra fora. Deu à costa na noite de 22 para 23, desfazendo-se contra os rochedos na praia do Ourigo.

Os vapores

“Nestor”, Alemão, (armador D.G. Neptun), de 1.227 toneladas, entrou a 14 de Dezembro. Capitão Klofkorn. Procedia de Antuérpia, com 7 dias de viagem, carregado com carga geral, consignado a W. Stuve & Cª. Ficou encalhado na barra (cais do Touro).

“Cintra”, Alemão (armador O.P.D.R.), de 1.140 toneladas. Fundeado no Vale da Piedade, foi rio abaixo até encalhar nas pedras que formam o cais do Sul, em frente a Sampaio, com 17 tripulantes. Regista-se a morte do capitão e 4 tripulantes, por se ter voltado o escaler, quando tentavam chegar a terra. Foi considerado perda total.

“Gascon”, Inglês, (armador Ellerman Lines), de 1.106 toneladas, entrou a 15 de Dezembro, em 15 pés e meio de calado. Capitão Allen. Procedia de Liverpool, com escala por Lisboa e 14 dias de viagem, carregado com mercadoria diversa, consignado a Charles Coverley & Cª. Estava fundeado no quadro da Alfândega. Seguiu rio abaixo até encalhar nas pedras da Ponta do Dente, próximo à barra. Acabou vendido em hasta pública, por 1.310 mil reis.

“Douro”, Inglês, (armador Ellerman Lines), de 1.028 toneladas, entrou a 13 de Dezembro, em 14 pés de calado. Capitão Madsen. Chegou procedente de Nantes, com 4 dias de viagem, em lastro, consignado a J.T. Costa Basto & Cª. Estava fundeado no quadro da Alfândega, tendo saído barra fora. Encalhou depois nos rochedos da praia de Fuzelhas, em Leça da Palmeira. Perda total.

“Ellida”, Norueguês, (armador A. Halvorsen, Bergen), de 1.124 toneladas, entrou a 16 de Dezembro, em 15 pés de calado. Capitão Petersen. Procedia de Tyne, com 6 dias de viagem, com carga de carvão, consignado a Guilherme Puls e Jervell & Knudsen. Estava fundeado no Vale da Piedade, tendo seguido rio abaixo, ficando encalhado no areal de Sampaio (Afurada). Recuperado.

“Sylvia”, Norueguês, (armador Rederiselskabet “Sylvia”, Lingoer), de 1.120 toneladas, entrou a 13 de Dezembro, em 10 pés de calado. Procedia de Nantes, com 4 dias de viagem, em lastro, consignado a J.T. Costa Basto & Cª. Fundeado no Vale da Piedade, foi embatido pela barca “Santos Amaral”, partiu os ferros das ancoras, seguindo rio abaixo até encalhar em Sampaio. Mais tarde foi barra fora, encalhando novamente no areal do Cabedelo. O navio na venda em hasta pública rendeu 1.501 mil reis e a mercadoria carregada, composta por toros de pinheiro, foi arrematada por 1.513 mil reis.

Panorama geral dos destroços que deram à costa
Imagem de autor desconhecido

Para terminar, gostaria de acrescentar que das 740 embarcações que operavam no trafego fluvial, tais como lighters, barcaças, batelões, etc., só puderam ser aproveitadas cerca de 40, todas elas consideradas de menor porte e dimensão.

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