segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Notícias - Afinal, como foi ?


O encalhe do vapor “Julian”

Por motivo das discrepâncias, que encontrei no relato publicado no jornal “O Falcão do Minho”, de 20 de Março de 2008, mais de 100 anos após o acidente e a notícia encontrada no jornal “O Comércio do Porto”, no dia seguinte ao naufrágio, que aborda o encalhe superficialmente, levantam-se questões, relativamente a detalhes e pormenores.


Aparentemente considerado nos meios locais, como o acidente mais importante daquele período, dando origem a actos de grande coragem, a justificar a entrega de condecorações aos seus socorristas, através de medalhas de cobre e diplomas de mérito, certamente prémios do recém criado Real Instituto dos Socorros a Náufragos, o naufrágio teve lugar num período de mar e tempo agradáveis, todavia passível de gerar densos mantos de nevoeiro, eventualmente causadores do encalhe.

Como se percebe, este vapor Espanhol naufragou a 13 de Julho de 1896, nas pedras denominadas “Roncador”, ligeiramente a norte dos “Cavalos de Fão”, quando em viagem de Cadiz para Vigo. Tinha de arqueação bruta 497 toneladas e um peso morto consideravelmente superior, que lhe permitia transportar na ocasião 716 toneladas de mercadoria.

Na notícia do jornal minhoto, refere que o navio transportava vinho fino (!), pianos, entre outra carga não especificada. Tinha a bordo 22 tripulantes e 20 passageiros, sendo que 3 deles eram de menor idade. Terá igualmente causado espanto, a forma selvagem como o navio e a mercadoria transportada, foram pura e simplesmente vandalizados. O vapor, admite o historiador Figueiredo da Guerra, foi tomado de assalto ao ponto de terem sido rebentados diversos pianos, a golpes de machado, com a única finalidade de se apoderarem dos metais, já que gente responsável e as autoridades se apoderaram do vinho fino, deixando o restante à mercê do povo.

Não nos fica dúvida, quanto à forma grotesca de tratar os salvados dos navios, nem tão pouco a decisão ignorante de participar na sua brutal destruição. Os exemplos repetem-se, a norte e a sul, ao longo dos anos, sendo provocados por quem dispunha de meios para chegar a bordo. Neste caso, a notícia do correspondente do jornal “O Comércio do Porto”, aposta em anexo, refere que o vapor submergiu de todo, daí impossibilitando a abordagem e a destruição do mesmo, a não ser que já existissem boas condições de mergulho, nessa ocasião, situação algo inverosímil.


Das duas uma, ou o navio submergiu deixando na costa apenas os salvados, que serviram a quem deles se aproveitou, ou existiu omissão jornalística, dando cobertura a actos desprezíveis. Decorridos todos estes anos, será difícil saber quem tem razão!

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