quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Construção naval - Os grandes lugres...


Porquê ?

Lugre "Francisco Manoel" - o anúncio da venda

Em função do anúncio do navio supra, apuramos tratar-se dum lugre de 4 mastros, que à época mereceu rasgados elogios, pela capacidade apresentada pelos construtores navais, na tentativa de fazer mais e melhor.
Feliz coincidência : afinal a proposta abarcava três lugres, para construção simultânea nos estaleiros de Esposende, entre 1918 e 1919, correspondendo a um período de grande agitação laboral, decorrente dos primeiros anos no pós Iª Grande Guerra Mundial.
Com uma marinha mercante depauperada, urgia a necessidade de dispor duma frota capaz, para navegações costeiras e de longo curso, para em paralelo com os vapores capturados aos Alemães, suprir a enorme falta de navios, como acontecera anos antes, essenciais ao transporte dos mais elementares bens de consumo para o país. Puro engano !…
Inexplicavelmente, quase ninguém da ousada construção naval se revelou capaz de construir lugres com 4 e 5 mastros, que apresentassem condições de navegabilidade e durabilidade superior a três anos, sabendo agora, que alguns desses lugres não celebraram sequer um segundo aniversário com utilidade.
Por mais que o tenhamos tentado, ignoramos os comentários e os argumentos, que expliquem tamanho nível de incompetência. Isto, ao ponto de abdicarmos regionalizar os desvarios, porque construções na Figueira, Aveiro e Viana do Castelo, se revelaram igualmente perigosos fracassos.
Em Esposende, a situação das referidas construções foi idêntica, só que pior, quando ao mesmo tempo se multiplicou por três.
Decorridos 80 anos, de que forma se justifica tanta inépcia, sabendo que lugres de menor dimensão, patachos, palhabotes, iates ou chalupas, deram voltas ao mundo, operados e explorados por mãos nacionais e estrangeiras, cumprido o mar desde sempre e por longos anos, com total satisfação !

A construção em Esposende - Foto (c) Col. José Figueiras
Lugres "Espozende 1º", "Francisco Manoel" e "Troviscal"

Lugre de 4 mastros “ Francisco Manoel “
1918 – 1922
Armador : Vinagre, Borges & Cª., Porto

Nº Oficial : ?? > Iic.: ?? > Porto de registo : Porto
Cttor.: Domingos Carlos Ferreira & Filho, Esposende, 15.10.1918
Arqueação : Tab 436,00 to > Tal 392,00 to
Comprimentos : Pp 40,39 metros > Boca 9,60 metros
Máquina : Não tinha motor auxiliar
Capitães embarcados : Joaquim Marques Machado, 1918 a 1921
Vendido no Porto, foi desmastreado e adaptado a fragata de carga, ficando ancorada no rio Douro, a partir do ano de 1922.

Lugre de 4 mastros “ Troviscal “
1919 – 1921
Armador : Sociedade de Construção Naval, Esposende

Nº Oficial : ?? > Iic.: ?? > Porto de registo : Esposende
Cttor.: Domingos Carlos Ferreira & Filho, Esposende, 24.06.1919
Arqueação : Tab 441,00 to > Tal 396,00 to
Cpmts.: Pp 51,18 mtrs > Boca 9,88 mtrs > Pontal 4,72 mtrs
Máquina : Não tinha motor auxiliar
Capitães embarcados : Sebastião Domingos Magano, 1919 a 1921
Vendido em 1919 a Francisco Pinto da Fonseca, manteve o mesmo nome, tendo alterado o registo para a praça do Porto. Novamente vendido, encontrou comprador em Cuba, ficando registado em Havana, durante o ano de 1921.

Lugre de 4 mastros “ Espozende II “
1919 – 1921
Armador : Empresa de Navegação de Esposende, Esposende

O lugre "Espozende 2º" - Col. do Dr Bernardino Amandio
in "Os Estal. Navais de Esposende e Fão nos Séculos XIX e XX"

Nº Oficial : ?? > Iic.: ?? > Porto de registo : Viana do Castelo
Cttor.: José de Azevedo Linhares, Esposende, 15.12.1919
Arqueação : Tab 591,00 to > Tal 534,00 to
Cpmts.: Pp 56,08 mtrs > Boca 10,18 mtrs > Pontal 5,27 mtrs
Máquina : Não tinha motor auxiliar
Capitães embarcados : J. Francisco Ramalheira, 1920 a 1921
Vendido à Companhia da Guiné (Dr. João Pereira de Barros e outros), em 1920, manteve o mesmo nome, tendo alterado o registo para a praça do Porto. Condenado por inavegável, foi abandonado no porto de São Luiz do Maranhão, Brasil, no decorrer do ano de 1921.

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