quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Porto de Leixões - Chegar e zarpar !


Interessante, mas nem sempre foi assim...

O paquete Holandês " Orania "
1922 - 1934
Koninklijke Hollandsche Lloyd, Amesterdão

O "Orania" - foto colecção Rich Turnwall

Nº Oficial : n/s > Iic.: P.N.L.K. > Registo : Amesterdão
Construtor.: Workman, Clark & Co. Ltd., Belfast, 02.1922
Tonelagens : Tab 9.763,00 to > Tal 5.760,00 to
Comprimentos : Pp 137,25 mt > Boca 18,11 mt > Pontal 12,47 mt
Máq.: Workman, Clark, Ltd.,1921 > 4:Tv > 1.246 Nhp > 14,5 m/h
Afundado na bacia do porto de Leixões, após ter sido abalroado pelo vapor "Loanda" da Companhia Colonial de Navegação, sem piloto a bordo, em 19.12.1934.

Leixões - Chegar e zarpar defende a ideia que o porto é rápido e seguro. E é verdade. O porto de Leixões opera com rapidez e é seguro, mas as pessoas não. Por isso, um qualquer acidente pode acontecer como já aconteceu. No caso do "Loanda" a intenção da tripulação seria fugir do temporal que se fazia sentir. Quanto ao "Orania", a disponibilidade de todos quantos tinham uma embarcação por perto, serviu para assegurar a total ausência de vitimas.
Num caso próximo não conseguimos sequer imaginar o que possa suceder. Acreditamos apenas que as condições que vem sendo criadas ajudam a prevenir situações fortuitas. Melhorar sempre deve ser a meta, o mais elementar objectivo.

2 comentários:

Rui Amaro disse...

Olá Reimar
A versão do meu pai, piloto da barra, que de bordo do vapor Norueguês BJORNOY, 80m/1,493tb, fundeado na covada do molhe Sul, que de véspera estivera à barra do Douro e devido à forte maresia não entrara, tendo-se ido abrigar na Bacia do porto de Leixões, juntamente com mais 10 vapores, permanecendo a bordo, para qualquer manobra de emergência originada pelo mau tempo, assim como os seus outros colegas embarcados nos outros vapores, testemunhara o naufrágio.
O ORANIA, 145m/9.763tb, vindo da América do Sul chegara às 07h00, e apesar do mau tempo foi decidido dar entrada àquele paquete, dado que vinha desembarcar poucos passageiros e alguma carga, pois demoraria no máximo umas quatro horas. A lancha de pilotar P1 fez várias tentativas de se fazer ao largo, contudo a forte maresia não o permitia e às 12h00, levando o piloto, saiu o rebocador MARS 2º, que o fez embarcar com sucesso e o ORANIA demandou o porto sem percalços, fundeando a meio porto a dois ferros, espaço exíguo, devido à aglomeração de outros 12 vapores e mais embarcações de pequeno porte e de seguida foi içado no mastro do castelo de Leça o sinal de porto encerrado.
O vapor LOANDA, 130m/5.139tb, procedente de Lisboa, sem que se previsse, faz-se ao porto e segundo constou, o seu capitão entendeu que ele tinha prioridade sobre o ORANIA, e por isso não deveria ficar ao largo, só que o demandou com sinal negativo, que parece não ter sido visível de bordo.
Entretanto o meu pai chamou o capitão à ponte, e disse, o LOANDA vem com demasiado andamento e embalado pela ondulação não vai conseguir estancar, o espaço de manobra é curto e de certeza a sua proa vai entrar pelo costado, a meia nau, zona de caldeiras e máquina, do ORANIA, e vai ser uma grande tragédia, jamais vista neste porto e acrescentou, que fosse preparando as baleeiras para prestar auxilio aos muitos náufragos (158 tripulantes + 121 passageiros + pessoal de terra) e de regresso à ponte apareceu de máquina fotográfica, começando a disparar a objectiva.
O capitão Laurens Maars do ORANIA, prevendo o embate, dá ordem para que todos bordo se segurassem, enquanto o LOANDA, expelindo imenso fumo pela chaminé, vê-se diante do ORANIA, e sem espaço de manobra, de marcha toda força à ré, sem se conseguir deter, larga os dois ferros, e embate estrondosamente a meia-nau do ORANIA, abrindo-lhe uma enorme brecha desde a coberta superior até a linha de água, por onde começa a entrar água a rodos, ao mesmo tempo que o seu capitão, conscientemente manda descarregar as caldeiras, a fim de evitar uma grande explosão. De bordo ergue-se um coro de gritos de pavor, nomeadamente dos passageiros, que procuravam socorro, apesar da tripulação se mostrar relativamente calma.
O ORANIA começa a adornar a BB, e em pouco tempo acaba de ficar completamente tombado. Todo o pessoal de bordo é salvo pelos meios de salvamento do vapor, por baleeiras de outros navios e por embarcações portuárias.
Em face da situação, o LOANDA foi intimado a abandonar o porto, assim como os vapores BJORNOY, OTTINGE, KRONOS, GONÇALO VELHO, MINA e ODYSSEUS, que se fizeram a largo. Os vapores IBO, PADUA, CEUTA e MARIVALDES continuaram fundeados na Bacia.
O destroço do ORANIA permaneceu por muito tempo, embora tivesse sido retirado do local do acidente, e diz-se que só não foi recuperado, devido a interesses alheios às autoridades marítimo-portuárias e ao seu armador Koninklijke Hollandsche Lloyd, Amsterdão, que em 1935 abandonou o serviço de passageiros e devido a um litigio com o porto de Leixões, deixou de escalar portos Portugueses receando arresto dos seus navios, só regressando a Leixões, com um navio já na década de 70.
Rui Amaro

reimar disse...

Olá Rui !
A versão do teu pai foi-me contada detalhadamente pelo distinto Luís Ventura, de grande e saudosa memória.
O que me disse também foi que o navio por duas vezes flutuou e por mais duas vezes se afundou. Ao que parece o navio dava mais dinheiro no fundo, com a tentativa de recuperação, que a flutuar. Até que alguém disse "enough is enough", daí
que veio a ordem para demolir.
Um grande abraço e até breve, Reimar