segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

A barca " Bella Formigosa "


Porto, 1890-1910

Nome de uma barca registada no Porto, Formigosa é simultaneamente um topónimo utilizado para dar nome a um lugar no concelho de Vila Nova de Gaia, provavelmente o local de origem da família do respectivo proprietário.
Navio construído em Quebec, no Canadá, em 1876, depois de navegar durante vários anos com o nome “Glengarry”, chega ao Douro durante a última década do século XIX. Pertenceu a J. T. Costa Basto, que a registou no Porto ( indicativo H.K.J.N., 635,43 to de registo bruto e 603,66 to de registo liquído), local onde normalmente iniciava e terminava as viagens de longo curso até às Américas do Norte e do Sul.

A barca " Bella Formigosa "

À entrada do Douro, a reboque do "Veloz", por volta de 1900
Imagem (c) da colecção de fsc

Os 24 anos de serviço completados em 1903 e uma eventual necessidade de manutenção e reparação, terão pesado na decisão de colocar o navio à venda, ainda no decorrer desse mesmo ano. Apareceu como candidato interessado o armador portuense José Soares da Costa, confirmando a compra. O registo em 1904, foi a exemplo dos navios da sua frota mantido no Porto, alterando-lhe apenas o nome para “Soares da Costa”, caracteristicamente comum por ter sido repetido em vários navios, ao longo dos tempos.

A barca " Soares da Costa "

Encalhada em Massarelos, depois da cheia do rio, Dezembro,1909
Imagem (c) da colecção de fsc

Segue-se uma série de anos de relativa tranquilidade, até à tormentosa cheia do Douro, em Dezembro de 1909, que vai apanhar diversos navios, muitos dos quais para voltar a navegar, por falta de seguro, vão exigir um enorme esforço económico, que viria a terminar em profunda rotura financeira, sendo os navios levados à praça para venda, para pagamento das dívidas.

18.02.1910
Quando um mal, nunca vem só...

Devido ao violento temporal, a barca "Soares da Costa", fundeada no porto de Leixões, com carregamento de aduela e algodão, ali recebido e trazido pelo vapor espanhol "Catalina", cerca das sete horas da noite, começou a garrar, sendo imediatamente pedido socorro de bordo, bem como das embarcações que se encontravam próximo. Sem que qualquer auxílio fosse prestado à barca, esta, pelas oito horas, encalhou no enrocamento do cais norte, um pouco a oeste do porto de serviço.
Saindo então o salva-vidas, encostou à barca, recolhendo a tripulação, composta pelo capitão Francisco Fernandes Batata, quatro marinheiros e duas mulheres, que foram transferidas para terra. A barca "Soares da Costa", que por ocasião da última cheia do rio Douro, esteve encalhada em Massarelos, junto ao cais, é de 566 toneladas de registo e pertence ao Sr. José Soares da Costa, que ainda há pouco tempo recebera uma proposta de venda, por 6.000$000 (mil reis). Não estava no seguro. A carga que como foi dito, se compunha de fardos de algodão e aduela, flutuava em grande quantidade, em volta do barco, procedendo-se ao seu salvamento. A barca "Soares da Costa", que se encontra em condições muito criticas, não havendo esperanças de a salvar, devia ser leiloada juntamente com outras embarcações, na próxima quinta-feira, no edifício da Bolsa do Porto. (Notícia do Comércio do Porto, de 20.02.1910)

E foi...

Arrematação de embarcações

Na bolsa do Porto foram ontem postas em praça as seguintes embarcações, que tiveram estas propostas :
Patacho "Soares da Costa", no rio Douro, 7.100$000 (mil reis)
Iate "Othelinda Costa", surto em Leixões, 3.604$000 (mil reis)
Iate "Adelaide Costa", também em Leixões, 4.410$000 (mil reis)
Iate "Odília Costa", surto em Setúbal, 3.310$000 (mil reis)
Iate "José Costa", também em Setúbal, 4.000$000 (mil reis)
e o visto e não visto da barca "Soares da Costa", naufragada em Leixões, 500$000 (mil reis).

Todas as propostas estão sujeitas às condições lidas na praça.
(No jornal "O Comércio do Porto", de 25.02.1910)

Pelo que me é dado constatar, do leilão resultou a venda de dois navios. O iate "Adelaide Costa" foi comprado por José Joaquim Gouveia, continuou matriculado no Porto, mas alterou o nome para "Oceano". O iate "José Costa" foi comprado por Manuel de Oliveira Júnior, matriculou na praça da Figueira da Foz, sendo rebaptizado como "República".

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