quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

A Estação do I.S.N. " José Rabumba "


1º - A estação " José Rabumba " de Leixões

Postal do início do séc. XX da Estação José Rabumba,
parcialmente encoberta pelos vagões de caminho de ferro
Em primeiro plano estava o salva-vidas "Rio Leça", sempre a postos

Data de 1892 a construção e início de actividade da Estação José Rabumba, em Leça da Palmeira, recebendo para o efeito de salvamentos uma embarcação com motor a petróleo, sendo baptizada " Rio Leça ", tendo-se mantido ao serviço até ao ano de 1922.

O salva- vidas " Porto " - imagem (c) Fotomar

Para fazer face ao elevado número de sinistros, em 1922 a estação recebe 2 novos salva-vidas a remos, o "Porto" e o "Leixões", que tal como o anterior teve os seus momentos de glória, até 1928, altura em que pela quantidade de remadores necessários para navegar e pela pouca velocidade alcançada para chegar aos locais dos naufrágios, foram considerados obsoletos, visto andarem quase sempre rebocados, pelo vapor que se encontrasse mais próximo.

O salva-vidas "Leixões" com a equipa de remadores,
vendo-se à direita o patrão José Rabumba

Também o considerável aumento no caudal de navegação em Leixões, com 104 navios entrados no porto em 1889, ano que marca o início da construção dos molhes, aumentou substancialmente para 436 navios em 1918 e 488 navios em 1932, justificando a sua urgente substituição por um salva-vidas com melhor preparo e equipamento.
Ainda no decorrer de 1932 entra em serviço o salva-vidas "Carvalho Araújo", que resistiu ao mar e ao tempo durante uma longa existência de 51 anos, até que finalmente em 1979 é colocado em funções a mais recente embarcação de salvamento, o "Patrão Joaquim Casaca", que já conta com 29 anos de serviço. Deve salientar-se que até à intervenção da Armada em 1957, as tripulações dos salva-vidas viviam apenas de contribuições simbólicas, das ajudas de alguns beneméritos e da receita de uma festa anual, para angariação de fundos, promovida pelo Sport Clube do Porto.

O salva-vidas " Carvalho Araújo " - imagem (c) Fotomar

2º - Os Patrões do salva-vidas

Por reconhecida capacidade de chefia e ilimitado altruísmo, foram 10 os Patrões que tiveram a seu cargo as embarcações de salvamento e a quem se deve o resgate de muitas vidas salvas, em permanente competição contra o mar impiedoso do norte do país, causador de naufrágios e de um imenso rol de náufragos, que o destino depositou nas praias ao longo da costa.
Saído da carreira militar na Marinha, o ex Cabo-de-mar José Rabumba, o "Aveiro", nome por que ficou conhecido, por ser natural desta cidade, foi o 1º Patrão do salva-vidas de Leixões. Ele soube reunir um excelente grupo de homens, realizando salvamentos notáveis, numa época difícil, com meios aquém de precários e longe de possuir um equipamento eficaz. De forte personalidade e muito carismático, soube transmitir à equipa que o acompanhou e aos vindouros que se lhe seguiram, os ensinamentos essenciais ao desempenho de tão nobre missão.


José Rabumba, o "Aveiro"

Foram eles o José Pinho Brandão, sómente por um curto espaço de tempo, por ter falecido durante uma tentativa de salvamento na barra do rio Douro, o Fernando Rodrigues Rachão, também conhecido pelo "Sabe ler", o António Rodrigues Crista, o José Maria Nora, o Laurindo Correia dos Santos, o Pedro Ribeiro, o Manuel José da Silva, melhor identificado pela alcunha de Manuel Malhão, o Fernando Gomes e por último o Israel Cartucho da Mata.

3º - Os falecidos em serviço

Numa profissão de alto risco era inevitável que a morte cobrisse de luto a Estação de Leixões. O primeiro acidente fatal aconteceu a 11 de Maio de 1932 e vitimou 6 tripulantes do salva-vidas "Porto", falecidos por afogamento na barra do rio Douro, quando empenhados no salvamento da tripulação do navio Alemão "Gauss", encalhado no Cabedelo. Foram eles o Patrão José Pinheiro Brandão e os remadores Serafim Pereira da Silva, António Martins Vinagre, Mário da Silva Rebelo e os irmãos Inocêncio e Matias Baptista da Silva.

4º - Os temporais

Estão ainda bem presentes na memória dos mais antigos, alguns temporais ocorridos no norte do país, com grande incidência sobra a área do porto de Leixões. A 12 de Novembro de 1914, a coberto da noite, deu-se o encalhe do navio Inglês "Silurian", na praia de Angeiras, tendo sido salva a tripulação por José Rabumba. No entanto, devido ao agravamento das condições de tempo e mar, tornou inviável ao salva-vidas resgatar a tripulação do vapor Holandês "Bogor", que encalhando na noite seguinte a cerca de cem metros a norte do mesmo local, contabilizou 34 vitimas, como atrás se refere.

A 8 de Fevereiro de 1923, o porto foi fustigado por vento ciclónico, promovendo o naufrágio de algumas embarcações de pesca. O navio Português "Figueira", dos Transportes Marítimos do Estado, foi projectado contra o Cais do Marégrafo, que destruiu parcialmente. A 27 de Fevereiro de 1937, um furacão transformou em destroços, quer pela força do vento, quer pela violenta agitação do mar dentro do porto, uma boa parte da frota piscatória. Um navio Noruguês de grande porte, o "Ingria" arrastou e afundou pequenas embarcações à sua passagem desgovernada, até amarrar encalhado nas pedras junto à praia do norte.

Traineiras após a passagem do furacão de 1937

Ainda em 1937, também no enrocamento do cais norte, se desfizeram por força da maresia iates de carga e um iate da pesca do bacalhau, o "Cysne", registando-se ainda o encalhe do navio Inglês "Ashanti" e do arrastão Belga "Independence", com muitas avarias. A 15 de Fevereiro de 1941, repetem-se cenas de destruição na frota piscatória, com novo ciclone. O navio Grego "Hadiotis" encalha nos rochedos à entrada da doca e o paquete brasileiro "Cuyabá", entra mesmo na recém construída doca Nº 1, arrastado pelo vento, inaugurando as novas instalações sem protocolo oficial.

O salva-vida "Patrão Joaquim Casaca " - imagem (c) Fotomar

5º - Os salvamentos

Apesar das ajudas vindas directamente de terra, desde 1913, em que as Corporações de Bombeiros passaram a ter maior relevo nos acidentes do mar, foi a partir do encalhe do paquete "Veronese", no lugar da Boa Nova, onde anos mais tarde construiram o Farol de Leça, que foi testado com sucesso a primeira aplicação do cabo de vai-vem. E só 5 décadas depois participam helicópteros, chamados a intervir a 15 de Março de 1963, para colaborar na remoção de bordo, de quase toda a tripulação do navio Liberiano "Silver Valley", encalhado sobre as pedras designadas Felgueiras, na foz do rio Douro. No entanto e apesar da melhoria de condições utilizadas no presente, visando a salvaguarda das tripulações, o salva-vidas continua a acorrer lesto, marcando presença e transportando esperança, sempre que se revelou necessário.

3 comentários:

Clive Lawford disse...

Hi,

I have just found this very nice photo of the "Patrão Joaquim Casaca" on your very interesting Blogg.

Do you know who I need to ask for permission to use this photo on my web site which is dedicated to these great lifeboats at www.44mlb.com ?

Thanks, Clive.

Rui Amaro disse...

O PORTO foi uma das duas lanchas salva-vidas a remos, juntamente com a VISCONDE DE LANÇADA (pintado de branco),que fazia estação na Cantareira, Foz do Douro,julgo até 1928, tendo então sido transferido para Leixões.
No porto/praia de Carreiros (Molhe), Nevogilde, havia o VISCONDESSA DE LANÇADA (pintado de verde)e na Afurada existiu o GONÇALO DIAS, ao qual mais tarde foi instalado motor. Houve um outro o RIO DOURO, parece também ter estado afecto à Cantareira e a Leixões.
Saudações maritimo-entusiasticas
Rui Amaro

julio catarino disse...

salva-vidas no posto da Afurada, foram tres. O Patrão Lagoa, a remos, o Gonçalo Dias, tambem a remos, mas a certa altura foi para Lisboa para se transformar em barco a motor e nunca mais regressou. Houve um terceiro chamado Porto , a remos, que veio da Povoa do Varzim e que foi levado rio abaixo na grande cheia de 1962. Inicio da actividade em 1914 do posto.Abraço
Julio Catarino