domingo, 30 de dezembro de 2007

Dois irmãos, dois destinos - Os Arcanjos


Os Arcanjos
"S Gabriel" e "S. Raphael"

Decorria o ano de 1898 a Armada incorporou nos seus quadros navais dois cruzadores, que em função dos nomes de baptismo ficaram para sempre conhecidos pelos Arcanjos. Foram ambos construídos em França, nos estaleiros Forges et Chantiers de l'Havre, apresentando inicialmente 3 mastros, perdendo mais tarde o mastro do meio, por se provar desnecessário.
Tinham um deslocamento de 1.850 toneladas, 75 metros de comprimento, 10,80 metros de boca e 4,35 metros de pontal. A propulsão era realizada por dois motores de tripla expansão, com 3.000 Bhp de potencia, accionando dois veios e assegurando uma velocidade de serviço na ordem das 15 m/h. Em circunstâncias normais, os navios garantiam uma autonomia de 3.500 milhas e foram armados com 2 peças de 150mm (uma à proa, outra à ré), 4 peças de 120mm, 8 peças de 47mm, 3 metralhadoras de 6,5mm e um tubo lança torpedos.
As guarnições eram compostas por cerca de 180 tripulantes, divididos entre Oficiais, Sargentos e Praças, eficientemente preparados para tratar dos serviços que lhes foram confiados.


O "S. Gabriel" cumpriu tarefas ao longo da costa no país, visitou regularmente a Madeira e os Açores, desempenhou missões em África, viajou ao Brasil, participou nas campanhas de França, durante a I Grande Guerra Mundial e notabilizou-se aquando da viagem de circum-navegação, em que participou entre 1909 e Abril de 1911. Pode dizer-se que saiu de Lisboa Monárquico e regressou a Lisboa Republicano. Deste sucesso, ficou célebre o encontro com Wenceslau de Moraes, embaixador de Portugal no Japão, estreitando laços de amizade nos países visitados. Foi retirado de serviço e vendido para demolição em 1924.


O "S. Raphael" apesar de ter igualmente servido cabalmente a nossa Marinha, praticamente ao longo dos seus 20 anos de existência, teve um final acidentado, conforme relato da época, cujo comentário transcrevemos :
"Foi motivo de grande consternação no país a notícia do encalhe do navio, na foz do rio Ave, em frente à Capela de Nossa Senhora da Guia, em Vila do Conde, sob violento temporal. Com a colaboração de vários salva-vidas no local, os marinheiros abandonaram ordeiramente a embarcação, ficando para o fim o Comandante Barbosa Ludovice, que não escondia a mágoa resultante da perda de uma das melhores unidades ao serviço da Marinha. Dos 183 tripulantes lamenta-se a morte do criado de bordo António Maria Dias".


O acidente teve lugar a 21 de Outubro de 1911 e o salvamento da tripulação esteve a cargo do salva-vidas de Leixões, sob a responsabilidade do Patrão "Aveiro" e do salva-vidas da Póvoa, do Patrão Lagoa, ambos elogiados e condecorados pela eficácia posta à prova nessa ocorrência.

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